maio 27, 2010

“Por que as mudanças são tão lentas na educação?” de José Manuel Moran

“Por que as mudanças são tão lentas na educação” de José Manuel Moran
Disponível em http://www.eca.usp.br/prof/moran/lentas.htm
Por Adriana de Oliveira – CEF Sargento Lima – turma 5ª feira
José Manuel Moran, em texto complementar de seu livro “A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá” (2008) uma das razões para as que as mudanças na área educacional ocorram de maneira tão lenta, em relação às rápidas transformações sócio-econômicas está atrelada à falta de uma boa gestão institucional, de diretrizes claras e profissionais melhor remunerados e formados. Além disso, segundo ele, outra razão para a dificuldade da mudança de postura dos profissionais dessa área está no fato das atitudes tomadas por cada um diante do mundo, da profissão e da vida serem diferentes.
Sendo assim, segundo o autor, existem profissionais com maior ou menor iniciativa em relação às mudanças dentro de uma mesma instituição educacional. Ou seja, existe uma heterogeneidade de profissionais envolvendo desde a gestão até a área da conservação e limpeza.
Moran classifica os profissionais dentro de uma instituição educacional de acordo com seus perfis profissionais: “os automotivados e os que precisam de motivações mais externas. Os dependentes, nas mesmas ou melhores condições, preferem executar tarefas, obedecer ordens, realizar o que outros determinam.”(MORAN,2008). Para o autor uma das possíveis explicações para diferentes perfis está na motivação que ambos dão ao que fazem na vida profissional; alguns vêem a educação mais que uma profissão e outros encaram somente como meio de sobrevivência.
Assim, dentro de uma instituição educacional podem se percebidos quatro tipos de profissionais com perfis diferentes:
o Os permissíveis – São aqueles que repetem modelos pré-existentes e que, para mudar, depende de motivação externa e realizam alterações sutis em sua postura quando pressionados, mas, tendem a voltar à rotina quando essa pressão diminui. Encontramos nesse perfil, profissionais competentes com um trabalho sério e exemplar e outros com pouco preparo que somente copiam e não promovem nenhuma criatividade.
o Os pro-ativos e automotivados – Ambos procuram alternativa e soluções, novas técnicas e métodos buscando mudanças em situações menos favoráveis (eles se motivam para promover mudanças). Apresentam alternativas ainda não tentadas. Os pro-ativos podem ser dinâmicos, possuir agilidade e utilizam conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação de forma a implementar soluções já previsíveis; e os pro-ativos inovadores, que apresentam idéias diferenciadas, inéditas. Ambos são significativos para favorecer a mudança na área educacional, mas segundo Moran, e dos inovadores que a área precisa mais nesse momento.
o Os acomodados – Estão na área educacional, pois, para eles, esta área está atrelada a facilidade e a estabilidade. Não se ganha bem, mas dá para se manter (bico) e fazendo o mínimo. Criticam os jovens que querem seguir a área, bem como os motivados e culpam o governo, a estrutura, os alunos pelos problemas. Muitas vezes estão em cargo de chefia e se tornam “pesos” que seguram as “engrenagens” da escola a se moverem em direção as mudanças.
o Os com dificuldades maiores – Esses profissionais possuem dificuldades financeiras, pessoal, familiar ou alguma doença que dificulta seu desempenho. Com o tempo se recuperam e voltam ao ritmo anterior. Mas existem também aqueles que apresentam dificuldades mais profundas ligadas ao relacionamento pessoal(dificuldade em trabalhar em grupo, se acham donos do mundo, etc) e que complicam muito o andamento da instituição.
Apesar dos diferentes perfis profissionais descritos por Moran, ambos contribuem de maneira diferente para os progressos dentro da educação, pois, com a soma das diferenças torna-se possível verificar onde se é necessário as mudanças mais significativas.
Sendo assim, para Moran as atitudes que promovem mudanças não são inatas. Elas podem ser aprendidas e modificadas quando as pessoas veem sentido novo no que fazem. Algumas podem tornar-se mais passivos outros mais ativos.
Para que as mudanças pessoais ocorram, deve-se provocados e preparados intencionalmente. Os gestores devem ser manter firmes e insistentes com a atenção focada na mudança para que a mesma ocorra mais facilmente. Se o acompanhamento não for efetivo, ocorre a acomodação dos não motivados. Isso corre muito em instituições de ensino onde a gestão não é convergente.
O autor ressalta a importância de se criar condições de trabalho, econômicas e de formação para oportunizar os melhores alunos a encontrem motivação para serem professores e participarem de um processo de seleção que escolham realmente os melhores candidatos.
Além disso, os pro-ativos são mais requisitados e tem maior ganho profissional (reconhecimento) e econômicos. Eles trazem maior beneficio para si, se souberem trabalhar em equipe.
Ao final do texto, Moran expõe seu ponto de vista a respeito das propostas pedagógicas apresentadas pelas instituições educacionais. Para ele todas são homogêneas e, diante dos várias posturas profissionais e motivacionais dos envolvidos, as propostas pedagógicas poderiam ser mais flexíveis. Ou seja, os profissionais motivados externamente poderiam ter um roteiro detalhado de como lidar com a educação (com atividades, conteúdos, orientações específicas, tudo passo a passo); para os automotivados e pro-ativos pode-se mostrar diferentes caminhos, roteiros de aprendizagem diferenciados dando ênfase não ao conteúdo, mas as dinâmicas, as atividades, as pesquisas, projetos...
A educação é a soma da flexibilidade dos pro-ativos e da previsibilidade dos tradicionais. Hoje tem se mais professores motivados externamente do que pro-ativos inovadores. Por isso são necessárias estratégias diferenciadas para realização de mudanças significativas e profundas.
Apesar das secretarias de educação prepararem materiais prontos, orientando passo a passo como agir com cada conteúdos para que os docentes se sintam seguros e confortáveis (um exemplo no DF seria o programa Ciência em Foco), elas devem apoiar e incentivar a inovação curricular, as metodologias diferenciadas dentro das organizações de ensino e dentro de sala de aula por meio do uso de diferentes tecnologias de informação e comunicação –Tics (no nosso caso, na promoção de cursos de inclusão digital).
Enfim, para Moran e para mim, as mudanças são lentas e difíceis, mas precisam ser aceleradas para que acompanhem o ritmo alucinante por qual passa a sociedade global. Os docentes não podem “tampar o Sol com a peneira” para essa questão.