“Por que as mudanças são tão lentas na educação” de José Manuel Moran
Disponível em http://www.eca.usp.br/prof/moran/lentas.htm
Por Adriana de Oliveira – CEF Sargento Lima – turma 5ª feira
José Manuel Moran, em texto complementar de seu livro “A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá” (2008) uma das razões para as que as mudanças na área educacional ocorram de maneira tão lenta, em relação às rápidas transformações sócio-econômicas está atrelada à falta de uma boa gestão institucional, de diretrizes claras e profissionais melhor remunerados e formados. Além disso, segundo ele, outra razão para a dificuldade da mudança de postura dos profissionais dessa área está no fato das atitudes tomadas por cada um diante do mundo, da profissão e da vida serem diferentes.
Sendo assim, segundo o autor, existem profissionais com maior ou menor iniciativa em relação às mudanças dentro de uma mesma instituição educacional. Ou seja, existe uma heterogeneidade de profissionais envolvendo desde a gestão até a área da conservação e limpeza.
Moran classifica os profissionais dentro de uma instituição educacional de acordo com seus perfis profissionais: “os automotivados e os que precisam de motivações mais externas. Os dependentes, nas mesmas ou melhores condições, preferem executar tarefas, obedecer ordens, realizar o que outros determinam.”(MORAN,2008). Para o autor uma das possíveis explicações para diferentes perfis está na motivação que ambos dão ao que fazem na vida profissional; alguns vêem a educação mais que uma profissão e outros encaram somente como meio de sobrevivência.
Assim, dentro de uma instituição educacional podem se percebidos quatro tipos de profissionais com perfis diferentes:
o Os permissíveis – São aqueles que repetem modelos pré-existentes e que, para mudar, depende de motivação externa e realizam alterações sutis em sua postura quando pressionados, mas, tendem a voltar à rotina quando essa pressão diminui. Encontramos nesse perfil, profissionais competentes com um trabalho sério e exemplar e outros com pouco preparo que somente copiam e não promovem nenhuma criatividade.
o Os pro-ativos e automotivados – Ambos procuram alternativa e soluções, novas técnicas e métodos buscando mudanças em situações menos favoráveis (eles se motivam para promover mudanças). Apresentam alternativas ainda não tentadas. Os pro-ativos podem ser dinâmicos, possuir agilidade e utilizam conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação de forma a implementar soluções já previsíveis; e os pro-ativos inovadores, que apresentam idéias diferenciadas, inéditas. Ambos são significativos para favorecer a mudança na área educacional, mas segundo Moran, e dos inovadores que a área precisa mais nesse momento.
o Os acomodados – Estão na área educacional, pois, para eles, esta área está atrelada a facilidade e a estabilidade. Não se ganha bem, mas dá para se manter (bico) e fazendo o mínimo. Criticam os jovens que querem seguir a área, bem como os motivados e culpam o governo, a estrutura, os alunos pelos problemas. Muitas vezes estão em cargo de chefia e se tornam “pesos” que seguram as “engrenagens” da escola a se moverem em direção as mudanças.
o Os com dificuldades maiores – Esses profissionais possuem dificuldades financeiras, pessoal, familiar ou alguma doença que dificulta seu desempenho. Com o tempo se recuperam e voltam ao ritmo anterior. Mas existem também aqueles que apresentam dificuldades mais profundas ligadas ao relacionamento pessoal(dificuldade em trabalhar em grupo, se acham donos do mundo, etc) e que complicam muito o andamento da instituição.
Apesar dos diferentes perfis profissionais descritos por Moran, ambos contribuem de maneira diferente para os progressos dentro da educação, pois, com a soma das diferenças torna-se possível verificar onde se é necessário as mudanças mais significativas.
Sendo assim, para Moran as atitudes que promovem mudanças não são inatas. Elas podem ser aprendidas e modificadas quando as pessoas veem sentido novo no que fazem. Algumas podem tornar-se mais passivos outros mais ativos.
Para que as mudanças pessoais ocorram, deve-se provocados e preparados intencionalmente. Os gestores devem ser manter firmes e insistentes com a atenção focada na mudança para que a mesma ocorra mais facilmente. Se o acompanhamento não for efetivo, ocorre a acomodação dos não motivados. Isso corre muito em instituições de ensino onde a gestão não é convergente.
O autor ressalta a importância de se criar condições de trabalho, econômicas e de formação para oportunizar os melhores alunos a encontrem motivação para serem professores e participarem de um processo de seleção que escolham realmente os melhores candidatos.
Além disso, os pro-ativos são mais requisitados e tem maior ganho profissional (reconhecimento) e econômicos. Eles trazem maior beneficio para si, se souberem trabalhar em equipe.
Ao final do texto, Moran expõe seu ponto de vista a respeito das propostas pedagógicas apresentadas pelas instituições educacionais. Para ele todas são homogêneas e, diante dos várias posturas profissionais e motivacionais dos envolvidos, as propostas pedagógicas poderiam ser mais flexíveis. Ou seja, os profissionais motivados externamente poderiam ter um roteiro detalhado de como lidar com a educação (com atividades, conteúdos, orientações específicas, tudo passo a passo); para os automotivados e pro-ativos pode-se mostrar diferentes caminhos, roteiros de aprendizagem diferenciados dando ênfase não ao conteúdo, mas as dinâmicas, as atividades, as pesquisas, projetos...
A educação é a soma da flexibilidade dos pro-ativos e da previsibilidade dos tradicionais. Hoje tem se mais professores motivados externamente do que pro-ativos inovadores. Por isso são necessárias estratégias diferenciadas para realização de mudanças significativas e profundas.
Apesar das secretarias de educação prepararem materiais prontos, orientando passo a passo como agir com cada conteúdos para que os docentes se sintam seguros e confortáveis (um exemplo no DF seria o programa Ciência em Foco), elas devem apoiar e incentivar a inovação curricular, as metodologias diferenciadas dentro das organizações de ensino e dentro de sala de aula por meio do uso de diferentes tecnologias de informação e comunicação –Tics (no nosso caso, na promoção de cursos de inclusão digital).
Enfim, para Moran e para mim, as mudanças são lentas e difíceis, mas precisam ser aceleradas para que acompanhem o ritmo alucinante por qual passa a sociedade global. Os docentes não podem “tampar o Sol com a peneira” para essa questão.